'Ela' e 'Ele'. Talvez juntos sejamos muito mais do que uma simples palavra. Talvez passemos de fantasmas a memórias vivas.
A carrinha esperava lá fora. Olhava para a casa como um adeus, e até para a avenida onde morava, sabendo que para esta última não era um adeus definitivo. Seria o começo de uma nova fase, mas não de uma nova vida, era demasiado bom.
Observava cada pequeno pormenor com uma certa pena em abandoná-lo. Ainda teria de vir para a escola, e com certeza passaria por aquela zona para relembrar tudo o que passei ali, a minha infância, o meu início de vida.
A mobília já tinha ido toda no camião do dia anterior, apenas restava um ou outro objecto mais pessoal, e estávamos prontos para nos mudarmos.
Lembrei-me que com tanta confusão tinha me esquecido do telemóvel – tenho sempre de me esquecer de alguma coisa.
Pedi a chave ao meu pai e subi rapidamente ao meu apartamento, no segundo andar. Arrepiei-me a sentir o silêncio percorrer todo o espaço vazio da divisão. As paredes estavam nuas tal como me lembro de as ver no inicio de tudo. Passou rapidamente um flashback de um momento engraçado em que comecei a pintar as paredes da casa para ficarem mais bonitas; e em vez dos meus pais me castigarem ou me baterem, pintaram também. Só mais tarde vim a descobrir o porque da calma, o meu pai já ia pintar as paredes para mudar a sua cor.
Das mobílias que tivemos de deixar, nada nos fazia falta, felizmente. Na sala ficou uma secretária velha cheia de gavetas agora vazias e um relógio bem alto, acompanhado à sua esquerda por um sofá preto. Na cozinha ficou tudo, nada foi mudado e por isso, teve tudo de ficar. Nos quartos ficaram as camas e os guarda-fatos embutidos – nem imagino como os tiraríamos de lá, caso fosse preciso.
Ali estava o meu telemóvel da geração passada, estendido junto a uma das pernas da cama, peguei nele e dirigi-me à saída.
Sabia perfeitamente que agora era o adeus final, não havia mais nenhuma desculpa para voltar atrás, nem nenhuma solução que desfizesse o enredo.
Aproximei-me do carro onde já me esperavam os dois, e virei-me esperançosa, uma última vez; o último adeus a tudo e a Ele, caso ele decidisse aparecer. Apenas as crianças brincavam à macaca; tinha de entrar. Foi bem melhor assim, não haveria despedidas e assim é muito melhor esquecê-lo. E esta vez é definitiva!
Foi então que a sua voz me acordou do zumbido do vento a passar. Era Ele. Bem tinha Ele razão, tanto sabia entrar nas alturas certas, como aparecer quando não o queria ver.
Porque tem ele de tornar as coisas tão difíceis?
ele
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the other's lives are always better
can't take my eyes of you